sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Personagens da vez...

Mulher de preso...

Há quem diga que mulher de preso, na maioria das vezes também é bandido. Não quero entrar nesse mérito, mas gostaria de comentar sobre uma pessoa - uma personagem da vida - que conheci durante uma matéria sobre transferência de presos. O marido dela está preso na Delegacia de Jardim América, Cariacica - Espírito Santo. Nessa cadeia, em que deveriam estar encarcerados cerca de 35 detentos, existem mais de 200.
No final de semana anterior, havia acontecido uma rebelião que resultou em presos feridos - um deles morto - e um policial civil ferido com um tiro.
Bem, na quarta-feira seguinte, muitas mulheres dos presos que conseguiram sobreviver à loucura do sábado ligaram enumeras vezes para a redação de A Tribuna pedindo que uma equipe fosse ao local, pois aconteceria uma nova rebelião e os presos seriam mortos pela polícia.
Só fomos porque descobrimos que naquele dia estava acontecendo uma transferência em 'massa' de presos de várias delegacias do estado para onde eles realmente deveriam estar, nos presídios. Havia uma equipe do Batalhão de Missões Especiais (BME) da Polícia Militar no local para realizar a tal transferência. Dizem por aí que os presos TREMEM ao virem os homens no BME.
Pois bem, chegando ao local muitas mulheres. Era dia de visita e elas estavam proibidas de entregar os malotes. Resultado: revolta. E mais: não sabiam da transferência. Resultado número 2: mais revolta.
Eis que naquela multidão estava Gabriela*, de 26 anos, mulher de um preso que ela dizia ser inocente. Pelo menos dessa vez. Do tipo que fala auto e chama a atenção, Gabi confessou que vive no mundo do crime, e que, muitas vezes, o marido acabou preso por culpa dela.
-É assim mesmo, eu faço e ele paga (risos) - se gabou ela, que tem dois filhos dele e já espera pelo terceiro.
O tipo de crime: venda de drogas.
Mas essa não foi a única confissão que Gabi fez. Na nossa frente, o marido dela ligou mais de três vezes para seu celular perguntando se o almoço não ia ser entregue.
- Ele não me larga. Quer que eu vá embora, não quer que eu me meta em confusão. Mas eu não vou embora enquanto ‘esses policia’ (o BME) não forem embora, eu hein! - disse.
Segundo ela, as mulheres têm um segredo para colocar os celulares lá dentro. Segredo esse contado em off, e que não poderá ser revelado aqui. Mas um deles vocês já sabem qual é. Infelizmente, existe alguém que colabora com elas.

*Nome fictício para não identificar nossa personagem.

Orar para aliviar a dor

em uma outra matéria - desta vez, mais triste e dramática - conheci outro belo personagem. Todas as semanas o vendedor de amendoins Charles dos Reis, 27 anos, vai ao Hospital Infantil de Vitória (ES) orar pelas pessoas que estão na área do pronto atendimento.
Segundo ele, é uma forma "aliviar a dor das pessoas".
Charles não faz o tipo escandaloso. Não. Quase em silêncio ele pergunta ao familiar do paciente se ele pode orar um pouco. E olha que a maioria das pessoas aceita, sem reclamar. Um ou outro ri, mas não faz mal.
- Venho aqui duas ou três vezes por semana - contou. Charles sai do bairro Bandeirantes, em Cariacica - município vizinho, mas que fica de certa forma, longe da capital para colocar as duas mãos sobre a cabeça de pessoas adoentadas mentalmente e orar em voz baixa.
- É para ajudar as pessoas - contou.

Charles, durante oração


Foto: Kadidja Fernandes